O jogo PC Building Simulator esteve durante muito tempo em acesso antecipado, sofreu dois adiamentos na sua data de lançamento e acabou por ser lançado oficialmente em Janeiro de 2019. Felizmente quando o jogo foi lançado vinha com parcerias como por exemplo a da Nvidia e da Thermaltake, duas parcerias de peso na área da construção de computadores.
O objetivo do jogo é desafiar o jogador a ter o seu próprio negócio de reparação e construção de computadores, para isso o jogo conta com simulações reais de software e peças reais com design e especificações verdadeiras. Este jogo está disponível para PC e conta com modos didáticos tanto para iniciantes como modos um pouco mais complexos para os mais entusiastas.
Não são poucos os simuladores em que herdamos um negócio de família e PC Building Simulator não é exceção. No modo carreira, o jogador assume o papel do sobrinho de um inexperiente e descuidado técnico de informática chamado de Tim. Depois de descobrir que os negócios não iam bem, Tim decidiu passar a sua oficina de computadores para seu sobrinho (ou seja, nós o jogador) com a expectativa de que talvez ele tivesse mais sorte. E o termo adequado é esse mesmo, sorte, porque desde o inicio podemos perceber que o nosso tio não está disposto a cooperar. Inclusive, tem um pormenor, a empresa ainda é dele.
A conta está a zeros, as contas de serviço chegam a meio do mês e Tim ainda teve de pedir 15 dólares emprestados para gasolina. Uma bela maneira de começar, não vos parece?
E é assim que a jornada de “ressuscitar” a empresa começa. Através da caixa de entrada de email, o jogador verifica serviços disponíveis junto de pequenas descrições da situação. É por esta mecânica que o habitual foco do enredo de jogos deste gênero se constrói.
Tem malucos para todos os gostos, desde gente sem noção dos orçamentos até moderadores de sites de filmes fanáticos por quantidade de armazenamento, passando por verdadeiras pérolas da informática. A disponibilidade de localização para o Português do Brasil facilita o entendimento para quem não é entendido em Inglês, mas comete vários erros básicos (alguns deles claramente por falta de proofreading e má interpretação de contexto) apesar de se esforçar.
A maioria desses erros não atrapalha no desenvolvimento do enredo, mas podem gerar confusões na hora de entender o funcionamento de uma ferramenta ou de comprar uma peça para um cliente.
Com o passar do tempo, novas funções contribuem para construir os casos de relação entre prestador de serviços e clientes, como por exemplo um site de avaliação de empresas onde os seus trabalhos anteriores resultam em comentários e notas de uma a cinco estrelas. Esta avaliação depende do quão bem o cliente foi atendido e geralmente pequenos pedidos opcionais (como a preferência por uma cor de cabos) garantem um bônus ao resultado.
Através do aumento gradual de reputação novos tipos de serviços podem ser aceites e a empresa pode “reerguer-se” como uma boa opção entre os clientes. Devido a essa popularidade, o jogador deve acumular dinheiro para então comprar a empresa ao seu tio e tornar-se assim o novo dono.
No final das contas, o fator enredo do simulador acaba por ser suficiente e apresentar alguns personagens memoráveis, apesar dos emails enviados por clientes comuns (gerados aleatoriamente e sem características específicas) eventualmente se tornarem repetitivos. Vale a pena notar que o modo carreira (e de certa forma consequentemente o enredo) não tem um fim, e depois de alcançar o auge do desenvolvimento dea sua empresa, o jogador passa a receber apenas serviços gerados de forma aleatória.
E de que se trata o gameplay…
O menu principal oferece de forma minimalista três opções ao jogador: “Carreira”, “Como Montar um PC” e “Montagem Livre”. Vamos começar por explicar o modo “Como Montar um PC”, a opção de início mais provável para iniciantes, mas que também pode ser útil para que os controlos do simulador sejam entendidos.
Modo “Como Montar um PC”…
Ao clicar nesta opção, o jogador será levado a nada mais nada menos do que uma bancada de trabalho numa sala vazia, onde aprenderá a instalar os componentes de um computador numa caixa vazia. Algumas janelas de texto explicam desde a remoção dos painéis laterais da caixa até à ligação do computador após a montagem completa.
Breves explicações aparecem expondo o nome e a função geral da peça sobre a qual o rato está.
Um dos pontos mais interessantes é a forma como o jogador pode inspecionar algumas peças no inventário deste modo, clicando em partes específicas para descobrir a contribuição delas para o funcionamento da peça como um todo. Basta clicar na aba desejada e as informações aparecerem.
O uso de parafusos e a ligação de cabos também estão incluidos na explicação como parte dos procedimentos de montagem do computador. Os controlos são expostos na parte inferior do ecrã para contribui para o bom entendimento dos novos jogadores, e é neste ponto que mais uma vez surge uma pequena imperfeição da localização para o Português do Brasil (apesar de não atrapalhar no entendimento da instrução em si), o texto é muito grande para caber no ecrã e acreditem, essa não é a única situação em que isso acontece.
Em termos gerais, o modo “Como Montar um PC” ensina os conceitos básicos de forma detalhada e contribui de forma efetiva para desfazer o mito de que montar um computador é um bicho de sete cabeças. Porém, faltaram algumas instruções quanto aos cuidados necessários na hora de manusear certas peças e tutoriais de overclocking e liquid cooling, que poderiam ser úteis pra quem já sabe o básico mas gostaria de ir além disso.
Modo “Carreira”…
Como citado na seção enredo, o modo carreira baseia-se no completar de serviços para ganhar três recursos importantes, dinheiro para investir, experiência para subir de nível (consequentemente desbloqueando novos instrumentos de trabalho) e reputação para passar a receber serviços mais complexos. Inicialmente, a maioria dos serviços recebidos estão relacionados à remoção de vírus, troca de componentes simples e limpeza de caixas.
Cada um desses casos exige um procedimento diferente. A remoção de vírus requer que o jogador instale e execute um antivírus no computador do cliente com o uso de uma pendrive, enquanto a troca de componentes requer a compra de novas peças na loja (com correto planeamento de tempo de entrega) e a limpeza de caixas passa plo uso de um tubo de ar comprimido infinito. A verdade é que esses serviços iniciais se tornam enjoativos rapidamente e requerem pouco esforço, mas são necessários para dar tempo para que o jogador se habitue à rotina.
Mesmo os procedimentos mais simples contam com algumas explicações para ajudar o jogador.
Os serviços tornam-se mais complexos com o passar do tempo de forma que os desejos dos clientes são expostos de forma mais subjetiva, dando um pouco mais de liberdade ao jogador e algumas vezes até criando abertura ao erro. Existem, por exemplo, situações em que o orçamento oferecido pelo cliente é muito baixo para o upgrade que ele deseja, assim como clientes que não tem certeza do que há de errado com seu computador, fazendo com que o jogador tenha de descobrir por si mesmo.
O problema é que mesmo nessas situações o jogador não tem de descobrir completamente por si mesmo. Alguns ecrãs azuis ao ligar esses computadores com “problemas de origem misteriosa”, entregam de bandeja a fonte do agravamento. Apesar do intuito ser que o jogo seja um simulador didático, provavelmente tem a sua parte de culpa em relação a este fator, são dicas destas que distanciam um jogo como PC Building Simulator do realismo e acabam por desagradar os entusiastas.
E nem pensem em tentar ligar o computador sem um teclado ligado ao mesmo. O boot não vai acontecer…
E isso ocorre na mesma altura em que algumas mecânicas tentam aderir ao realismo (como as parcerias, a preferência de alguns clientes por peças novas e a necessidade de apagar as luzes ao sair para evitar as contas de luz elevadas) e a simulação de relação aos dados e especificações, é uma função atraente. Essa mistura leva a questões sobre o que o simulador realmente quer conquistar, fazendo com que pequenos problemas interrompam o fluxo e o intuito da experiência.
Essa mesma quebra de realismo acontece pela forma com que desafios iniciais são colocados de lado para se focar em novas complexidades. Aparafusar partes e fazer a ligação de cabos, por exemplo, são atividades que se tornam repetitivas ao longo do tempo, e a solução do jogo para isso é a disponibilização de ferramentas de ligação automática de cabos e de um aparafusamento mais rápido. Além de apresentarem preços absurdamente altos (que fazem sentido no design da jogabilidade por serem upgrades sem limite de uso), não existem animações que as tornem um pouco mais realistas.
Também é questionável a forma como algumas mecânicas se mantém bloqueadas até níveis mais altos enquanto podiam ser aproveitadas de forma especial pelos entusiastas. Um exemplo é a impossibilidade de realizar overclocking abaixo do nível 6, se de alguma forma fosse possível desbloquear essa mecânicas mais cedo, o jogador poderia tentar cumprir serviços que exigem uma pontuação específica no 3DMark sem adquirir novas peças, simplesmente explorando as capacidades de overclocking do computador de forma inteligente.
Enquanto alguns fatores (como a disponibilização do armário e de mais duas bancadas) garantem bom senso de progresso ao jogador, também é difícil não cogitar o quanto alterações mais significantes na oficina seriam interessantes. Tratam-se de especificidades que número algum de variedade de peças pode suprir, e que geralmente estão presentes noutros jogos do gênero.
Outro problema é a “aparição” de serviços extras. Neste caso, o intuito do serviço é diagnosticar e consertar o problema do computador, mas o jogo deixa para adicionar o pormenor de que a peça não pode ser inferior à anterior, só descobrimos isso depois de ter comprado e aplicado a peça. Desta forma, o modo “Carreira” também apresenta um certo potencial didático assim como o “Como Montar um PC”, mas cria brechas para a percepção de vários problemas que podem tornar a experiência a longo prazo um pouco desgastante, desperdiçando o potencial, jogando pelo seguro quanto ao facto de se focar numa jornada didática ou num simulador realista.
Existem várias outras imperfeições que acabam por tirar o realismo ao jogo, como o facto de nos avisar da incompatibilidade de peças no inventário de forma a mostrar somente as peças que são compativeis com o computador que estamos a mexer. Os serviços chegam inicialmente por email, gerando possíveis confusões na hora de executar o serviço. Afinal, como é que se pode fazer um upgrade em relação a uma peça se ela estava partida e o jogador a vendeu, acabando por não se lembrar qual era a peça original e não podendo contar com a ajuda da janela de especificações?
As vezes o jogador depara-se com isso e só se dá conta que o jogo estava a falar da incompatibilidade de Crossfire/SLI e não com a motherboard, acabando por ser tarde demais.
“Montagem Livre”
O modo “Montagem Livre” é a opção sandbox do jogo. Nela o jogador pode utilizar todas as mecânicas oferecidas pelo simulador de forma livre, sem se preocupar com custos, datas e afins. Esta é possivelmente a opção mais atraente para os entusiastas, considerando o fácil acesso às mecânicas que podem ser do seu interesse, testes no 3DMark, refrigeração liquida e overclocking.
Também se trata de uma boa opção para testar a disposição das peças dentro das diferentes caixas desktop e verificar da forma mais fidedigna qual seria o visual e desempenho médio de uma build com peças mais específicas. Mas mesmo neste modo algumas imperfeições assombram a vida dos entusiastas.
Não existe, por exemplo, uma forma de testar o desempenho do computador em diferentes resoluções e as opções de filtro (no caso de coolers por soquete, fluxo de ar e altura) no inventário são inexistentes. E para ser sincero, mesmo que o jogo exponha algumas funções como o upload do resultado de testes ao Time Spy Hall of Fame do 3DMark, a maior parte das atividades disponíveis no modo “Montagem Livre” são para finalidade própria, ou no máximo para partilhar o visual das builds com amigos.
O “valor de mercado” de cada criação estipulado pelo jogo desconsidera possíveis variações nos preços das peças e é inevitável citarmos que a ausência de alguns tipos de peças (como placas de som) no jogo por si já prejudicam o potencial deste modo de jogo.
Audiovisual…
Um dos pontos fortes do simulador é a visível dedicação na recriação de peças existentes na vida real. Apesar de não haver muito trabalho em algumas texturas, o reflexo delas costuma ser bem fieis às verdadeiras e um fator em específico impressiona bastante, o cuidado na construção de contatos e portas.
Como o jogo pretende manter certo potencial didático é importante que este cuidado exista, visto que leigos podem então levar em consideração as cores e formatos de cada porta. Existe, porém, um pequeno bug visual que pode incomodar bastante em certos casos, fios que se emaranham em espaços limitados e passam a ignorar a física.
Ainda assim, a fidelidade visual das peças compensa e muito a fatalidade. O cenário em que o jogador trabalha nos computadores também não deixa a desejar, com iluminação agradável e configuração de fácil entendimento.
A trilha sonora, por sua vez, é composta por dez trilhas criadas para o próprio título (algumas delas inclusive muito memoráveis, enquanto outras um pouco enjoativas), além de 244 estações de rádio acessíveis pela internet e as músicas do próprio computador do jogador. Para escolher entre as opções, basta aceder ao Reprodutor de Música no seu computador principal e navegar entre as três abas.
Conclusão…
PC Building Simulator, assim como a House Flipper, conta com uma grande aliada (além de suas companhias parceiras), a falta de concorrentes. Apesar de contar com bom fator audiovisual, o simulador comete muitos erros importunos e não se posiciona inteiramente como título didático ou título realista, misturando ambos os objetivos e criando situações capazes de confundir iniciantes e irritar entusiastas.
Os fatores que mais garantem destaque ao título são as parcerias e a simulação de dados reais, mas existe um certo limite de aproveitamento destas funções e, consequentemente, do simulador em si. Se gosta de computadores, não se resguarde tanto em relação ao título, mas também não espere uma infinidade de conteúdo e possibilidades e considere conviver com as imperfeições se quiser aproveitar o tempo investido.
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